Há
evidências científicas de que nosso planeta surgiu há cerca de 4600
milhões de anos, a partir da aglomeração de poeira, rochas e gases
presentes no disco de matéria que girava ao redor do Sol em formação.
Sabemos também que, nos primórdios de sua existência, a Terra era um
ambiente inóspito, sem a mínima condição para a existência de seres
vivos.
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| A Evolução |
O
processo de aglomeração de rochas, poeira e gases durante a formação da
Terra gerou tanto calor que os materiais rochosos mais internos se
fundiram e escaparam para a superfície, em erupções vulcânicas
violentíssimas. A superfície da Terra ficou coberta de lava
incandescente e o jovem planeta tornou-se uma imensa bola de fogo. Além
disso, a Terra em formação era continuamente bombardeada por corpos
vindos do espaço. Com certeza, nenhum tipo de vida podia existir em
condições tão adversas.
Ao
longo do tempo, as condições mudaram muito. A Terra é hoje um planeta
bem mais tranquilo que em seus primórdios e abriga milhões de formas de
vida.
Os primeiros vestígios de vida conhecidos datam de há 3500
m. a., detectados nos Estromatólitos. Estas são rochas resultantes da
deposição de carbonato de cálcio, secretados por comunidades de
cianobactérias. Assim, muitos cientistas julgam que a vida tenha
surgido no nosso planeta há cerca de 4000 m. a.
Como essas mudanças ocorreram e como surgiu a vida em nosso planeta?
Os
primeiros seres vivos deviam ser muito simples, constituídos por uma
única célula com organização procariótica. A célula procariótica não
apresenta membranas internas e seu material genético fica mergulhado no
líquido citoplasmático.
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| Célula Procariótica |
Célula Procariótica
Os
cientistas imaginam que os seres atuais mais semelhantes aos primeiros
seres vivos são as arqueas ou arqueobactérias. Esses seres
procarióticos primitivos vivem quase sempre em ambientes extremos, como
fontes de águas quentes, lagos salgados e pântanos. Acredita-se que
esses ambientes tenham certa semelhança com os que existiram na Terra
primitiva, nos quais as primeiras formas de vida evoluíram.
Por
volta de 2000 milhões de anos atrás, ocorreu uma grande inovação na
estrutura dos seres vivos: surgiu a célula eucariótica, mais complexa
que a célula procariótica, da qual descende. Atualmente, com exceção
das bactérias e das arqueas, todos os seres vivos apresentam células
eucarióticas. Nestas, o material hereditário fica contido dentro do
núcleo e o citoplasma é um labirinto de túbulos e bolsas membranosos;
existe também um sistema celular interno de tubos e filamentos de
proteínas, o citoesqueleto.
Uma
célula eucariótica típica apresenta uma série de compartimentos
internos delimitados por membranas semelhantes à membrana plasmática.
Esses compartimentos estão ligados entre si e à membrana plasmática. A
explicação mais plausível para a origem dos compartimentos membranosos
das células eucarióticas é que eles surgiram por invaginações
progressivas da membrana plasmática, num ancestral procariótico. A
presença de dobras na membrana aumentava a superfície de contato da
célula com o ambiente e facilitava a troca de substâncias entre os dois
ambientes: saída da célula de substâncias potencialmente tóxicas
produzidas no metabolismo celular e entrada de nutrientes. Com o tempo,
os compartimentos membranosos se diferenciaram, passando a desempenhar
funções específicas, o que aumentou a eficiência do funcionamento
celular.
Modelos explicativos para a origem das células eucarióticas.
Segundo
o modelo autogenético, algumas células procarióticas ter-se-iam tornado
progressivamente mais complexas. Prolongamentos da membrana
citoplasmática deslocaram-se para o interior do citoplasma, originando
compartimentos, separados do resto do hialoplasma, que viriam a
constituir os organelas celulares. Como resultado dessa compartimentação
foi possível às células fazer uma divisão interna das suas funções. Os
defensores deste modelo sugerem que o primeiro compartimento a surgir
dentro da célula foi o invólucro nuclear, o que permitiu a
individualização do material genético no interior do núcleo. Como
resultado do aumento do número de organelas celulares, estas células
sofreram um aumento de tamanho muito acentuado. O modelo endossimbiótico, atualmente
o mais aceito, parte de uma característica típica de muitos seres
vivos, a necessidade de viverem associados a outros seres vivos durante
períodos mais ou menos longos do seu ciclo de vida. Assim, o modelo
admite que as células procarióticas primitivas estabeleceriam múltiplas
associações entre si. Algumas dessas células predadoras, por processos
idênticos aos da fagocitose, ingeriam cianobactérias (procariontes
fotossintéticos). Uma vez no interior do citoplasma, algumas de entre
elas não seriam digeridas e começariam a fornecer à célula hospedeira matéria orgânica resultante da sua atividade fotossintética e a receber em troca proteção, água e minerais necessários à fotossíntese.
Lentamente, entre estes dois seres associados, foi-se estabelecendo uma
relação de simbiose, com proveito mútuo, que gradualmente tornou essas
duas células uma estrutura indissociável e os dois seres dependentes da
relação e incapazes de sobreviver separados. A célula da cianobactéria
daria assim origem, pelo processo descrito anteriormente, aos
cloroplastos.
Hipótese endossimbiótica ou simbiogênica
As
células eucarióticas atuais têm organelas nos quais ocorrem as etapas
fundamentais dos processos de obtenção e de transformação de energia;
são as mitocôndrias e os cloroplastos. As
mitocôndrias estão presentes em praticamente todas as células
eucarióticas e, no seu interior, ocorre a respiração celular. Os
cloroplastos estão presentes em células de algas e de plantas e neles
ocorre a fotossíntese.
Os cientistas acreditam que tanto mitocôndrias como os cloroplastos
descendem de bactérias primitivas que, num passado distante,
associaram-se às primitivas células eucarióticas. Essa é a ideia central
da hipótese endossimbiótica, ou hipótese simbiogênica. O termo simbiose, que compõe ambas as denominações, significa viver juntos.
Segundo essa hipótese, as primeiras células eucarióticas adquiriram capacidade de respirar gás oxigênio quando
passaram a abrigar, em seu citoplasma, células procarióticas aeróbias.
Estabeleceu-se, então, uma troca de benefícios entre esses seres: a
célula eucariótica garantia abrigo e alimento à célula procariótica e
esta lhe fornecia energia, obtida por meio da respiração aeróbia.
De
acordo com os cientistas, a associação foi tão bem sucedida que se
tornou permanente e os primitivos "inquilinos" procarióticos se
transformaram em mitocôndrias, organelas essenciais à sobrevivência da
célula eucariótica.
De
acordo com a hipótese endossimbiótica, a história dos cloroplastos é
muito semelhante à das mitocôndrias. Os cloroplastos teriam surgido pela
associação entre primitivas células eucarióticas (então já associadas
às ancestrais das mitocôndrias) e bactérias fotossintetizantes.
Portanto, as células de algas e de plantas atuais seriam o resultado de uma tripla associação de seres primitivos.
Modelo endossimbiótico - proposto por Lynn Margulis.
Segundo
este modelo, o invólucro nuclear e os sistemas endomembranares
associados também se originaram a partir de invaginações da membrana
celular. No entanto, apresenta uma explicação distinta para a origem das
organelas. Considera que as mitocôndrias e os cloroplastos resultaram
da incorporação de células procarióticas por outras células. As células
englobadas não foram degradadas e passaram a estabelecer uma relação de
simbiose com a célula hospedeira. Esta célula passou a conferir
proteção, suporte e nutrientes, enquanto que as células procarióticas
englobadas especializaram-se em alguns processos metabólicos.
Esta
relação de simbiose é benéfica para ambas as células, tornando-se numa
relação obrigatória e culminando com a evolução para células
eucarióticas. Este modelo é apoiado pelos seguintes argumentos:
· Os cloroplastos e as mitocôndrias possuem dimensões semelhantes aos procariontes atuais, sendo capazes de se dividirem autonomamente.
- Aqueles organitos possuem o seu próprio material genético que é semelhante ao material genético bacteriano (o cromossoma circular não está associado a histonas, por exemplo).
- As mitocôndrias e os cloroplastos são capazes de sintetizar parte das proteínas (dependem parcialmente do núcleo, pois os seus cromossomas circulares não codificam para todas as proteínas que necessitam). A sua maquinaria celular para a transcrição e tradução é semelhante à dos procariontes.
- Existem muitos genes de origem bacteriana encontrados nos organismos eucariontes.
- As mitocôndrias e os cloroplastos possuem membrana dupla;
- Ambas as organelas possuem ribossomos idênticos aos que existem nos seres procariontes atuais.
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A
presença de cloroplastos nas plantas e algas e a sua ausência em
animais e fungos apoiam a incorporação sequencial das células
procarióticas por parte de células hospedeiras. O modelo endossimbiótico
é, atualmente, o mais aceito para a explicação da origem das células
eucarióticas.
Existem
alguns organismos eucariontes, como, por exemplo, a Giárdia que não
possuem mitocôndrias, oque apoia o modelo de que a formação do invólucro
nuclear antecedeu a incorporação das mitocôndrias.
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Giardia: um elo perdido na evolução das células eucarióticas?
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Alguns autores consideram que Giárdia apresenta uma ultraestrutura semelhante à das células eucarióticas mais primitivas. É nucleada,
apresentando, curiosamente, dois núcleos idênticos; no entanto, não
apresenta mitocôndrias nem cloroplastos, e a ocorrência de outros
organitos (como retículo endoplasmático ou aparelho de Golgi) não é consensual entre os diferentes autores.
Existem diferentes espécies de Giárdia, que
podem infectar vários animais. No Homem, o microrganismo vive em
condições anaeróbias no interior do intestino, alimentando-se dos
produtos mucosos secretados pelos tecidos intestinais. Este
microrganismo é um parasita unicelular que, ao longo do seu ciclo de vida, alterna entre duas formas: quisto e trofozoíto.
Os
trofozoítos multiplicam-se por bipartição no interior do intestino
delgado. Quando os parasitas passam para o intestino grosso, ocorre a
formação de quistos, formas resistentes, que podem contaminar
aquíferos, constituindo formas infectantes. A infecção por Giárdia (giardíase) é uma doença de veiculação hídrica.
Curiosidade
Ginkgo biloba é
uma espécie arbórea, cujos ancestrais surgiram no final da Era
Primária. Esta espécie chegou à atualidade, porque encontrou refúgio em
vales profundos, quentes e húmidos, no Sudoeste da China, permanecendo
inalterada desde há milénios.
Árvore
de grande porte, de 25 a 40 metros de altura, alberga no interior das
suas células uma alga verde unicelular, que participa no seu
metabolismo. Esta associação rara é uma endossimbiose. Quando Jocelyne T. Guiller procedia a estudos citológicos em G. biloba,
observou que as suas células em cultura, desprovidas de parede,
entravam em necrose em poucas semanas. Em paralelo, surgiam, neste meio,
amontoados de formações esféricas de um verde brilhante. Constatou,
posteriormente, tratar-se de uma alga unicelular do género Coccomyxa.
Posta
a possibilidade de ter ocorrido contaminação externa do meio de
cultura, a observação de intensa proliferação da alga, no interior de
células de G. biloba em necrose, veio confirmar a origem endógena desta alga.
Observações feitas posteriormente permitiram detectar a existência de Coccomyxa, num estado celular transitório imaturo, em células não necrosadas de diferentes tecidos de G. biloba.
Estas formas precursoras da alga não apresentam quaisquer organitos
visíveis num citoplasma homogéneo. Supõe-se que a existência de formas
imaturas da alga em células vivas de G. biloba se
deve à repressão exercida pelo genoma da árvore sobre o genoma do
intruso tolerado. Este passa a poder manifestar-se quando as células
daquela entram em necrose, possibilitando, então, a proliferação da
alga.
Esta relação simbiótica, que se revela estável, poderá ter começado no momento em que uma alga do género Coccomyxa,
ocasionalmente alojada perto do gâmeta feminino, terá sido conduzida
até ele com os gâmetas masculinos. Incluída no ovo, a alga terá
resistido à digestão intracelular, ajustando o seu processo de divisão
no interior do hospedeiro.
Estudos genéticos de amostras de Coccomyxa recolhidas em G. biloba,
em diferentes locais do globo, demonstraram semelhanças genéticas entre
estas algas. Estas semelhanças sugerem que este tipo de simbiose
intracelular foi e continua a ser transmitida de geração em geração.
Adaptado de T. Guiller, J., Pour la Science, Fevereiro 2008
Fonte : http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=18849446
O cenário previsto com o modelo endossimbiótico pode ser observado atualmente.
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| Paramecium bursaria |
O
Paramecium bursaria, um organismo eucarionte unicelular ciliado,
estabelece relações de simbiose com muitas algas verdes unicelulares do
género Chlorella. Este "pseudodoroplasto" produz açucares que são juntos
aos do paramécium. Se a Chlorella for experimentalmente removida,
ambos os organismos continuam a existir independentemente. Sem os
parceiros fotossintéticos o paramécium fica totalmente dependente de
fontes externas de alimento. Sempre que tem oportunidade o paramécium
ingere a Chlorella mas não a digere restabelecendo a relação
simbiótica. O Paramecium bursaria não
é o único caso atual de endossimbiose. Muitos outros organismos,
incluindo alguns animais multicelulares, estabelecem relações de
simbiose com algas fotossintéticas e com cianobactérias.
Contudo, ainda apresenta aspectos controversos, como, por exemplo, a relação entre o DNA nuclear e organelar:
- Como se processa o controle da expressão de genes em compartimentos diferentes da célula?
- Como é que se processou a migração de parte do material genético dos organitos para o núcleo?
Os organismos unicelulares não podem aumentar indefinidamente o seu tamanho.
À medida
que aumenta de tamanho, o volume interior de uma célula aumenta, o que
provoca o aumento correspondente do seu metabolismo celular.
Este aumento do metabolismo exige o aumento das trocas de materiais com o exterior (entrada de O2 e saída de CO2,
entrada de nutrientes e saída de resíduos resultantes do metabolismo
através da membrana citoplasmática), para garantir os níveis mais altos
de metabolismo.
No
entanto, existe uma barreira física ao aumento do tamanho das células,
porque ao aumento de volume da célula corresponde um aumento muito mais
pequeno, da superfície da membrana citoplasmática em contato com o meio
extracelular.
O metabolismo celular depende, assim, da razão entre a superfície externa da célula e o seu volume.
Face à impossibilidade
de aumentarem indefinidamente o seu volume, os seres vivos unicelulares
seguiram outras vias evolutivas que haveriam de originar a organização
em colónias e, posteriormente, a pluricelularidade.
A associação de seres unicelulares em estruturas maiores e mais complexas - as colônias -
bem como o aparecimento de seres pluricelulares vieram permitir o
aumento do volume, mantendo elevada a superfície de contacto das células
com o seu exterior. Desta forma, garantida a eficácia das trocas e a
eficiência do seu metabolismo, o processo evolutivo pôde prosseguir no
sentido do aumento de volume do organismo.
A Volvox é uma
colônia de algas verdes, formada por mais de mil células biflageladas,
unidas por filamentos citoplasmáticos e bainhas gelatinosas,
constituindo uma esfera oca. Os flagelos das células da camada externa
promovem o movimento da colónia em volta do seu eixo, enquanto as
células maiores asseguram a função reprodutora. Várias colónias de
Volvox. Os vários pontos internos verder (1) correspondem a colónias
filhas.
A
alga Volvox é um ser colonial constituído por uma esfera oca de células
biflageladas mergulhadas .numa matriz gelatinosa que as une. Os
flagelos estão localizados para o exterior da esfera e permitem o
movimento da colónia. As células mantêm a sua independência, apesar de
existirem ligações citoplasmáticas entre elas. Algumas células de
maiores dimensões têm função reprodutiva, o que indicia uma incipiente
especialização celular. Apesar deste aumento gradual de complexidade e
de interligação entre as suas células, os organismos coloniais não
constituem seres pluricelulares, uma vez que a diferenciação celular ou
não existe ou é muito reduzida. Admite-se que os primeiros seres
multicelulares tenham surgido na sequência de um aumento de complexidade
e diferenciação celular nos seres coloniais. Colónias semelhantes ao
Volvox poderão, por esta via, ter dado origem às algas verdes
multicelulares.
A formação de colônias de algas verdes (C) resultou da associação das algas verdes unicelulares.
O
elevado grau de interligação entre as suas células e a diferenciação
celular abriram, posteriormente, caminho ao aparecimento dos tecidos e
dos órgãos que caracterizam a maioria dos seres multicelulares.
Um modelo de evolução dos eucariontes unicelulares até aos seres multicelulares com diferenciação celular.
O
aparecimento da multicelularidade permitiu uma série de tendências
evolutivas que acabaram por conferir vantagens aos respectivos
organismos, como:
- a diferenciação celular, com a consequente especialização no desempenho de determinadas funções;
- a diminuição da taxa metabólica e utilização mais eficaz da energia, resultado da diferenciação celular;
- o aparecimento de seres de maiores dimensões que mantêm constante a relação superfície/volume das suas células;
- uma maior diversidade de formas que conduziu a uma melhor adaptação aos diferentes ambientes;
- uma maior autonomia em relação ao meio externo, dado que os sistemas de órgãos garantem que o meio interno mantenha um maior equilíbrio (homeostasia) face às flutuações do meio externo.














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