As Crônicas de Gelo e Fogo – A Fúria dos Reis (livro dois)

[ATENÇÃO: SPOILER DO PRIMEIRO LIVRO, A GUERRA DOS TRONOS... Se você não o leu, não siga em frente com esta resenha!]

cronicas de gelo e fogo 2 A Furia dos Reis [Resenha] As Crônicas de Gelo e Fogo   A Fúria dos Reis (livro dois)

A Fúria dos Reis, o segundo livro da série As Crônicas de Gelo e Fogo, deve ser manejado com cuidado: ele queima. Queima como o fogo dos dragões de Daenerys ou como o fogovivo – terrível substância feita por alquimistas e que arde infinitamente, até destruir tudo o que encontra em Linkseu caminho.

Há um cometa vermelho cruzando os céus de Westeros e os Sete Reinos se encontram em plena guerra civil. São diversos os sentidos atribuídos ao traçado vermelho no céu: a glória, o perigo, a guerra, a morte, os dragões. Também são múltiplas as vontades e as forças em combate nessa história. O jovem Robb Stark, declarado Rei do Norte, prepara-se para enfrentar os Lannister, ao mesmo tempo em que os dois irmãos mais jovens do falecido rei Robert Baratheon lutam ardentemente pelo trono. Stannis, frio e implacável, alia-se a uma misteriosa sacerdotisa chamada Melisandre – a Sacerdotisa Vermelha. Renly, belo e reluzente, conta com seu enorme exército, seus admiradores, seu charme e seu carisma. E, bem longe, Daenerys – uma ameaça ainda secreta – segue em marcha com seus dragões e seu khalasar. São muitos reis e muitas guerras, muita destruição e muita morte: enquanto os nobres se digladiam, o povo enfrenta a fome, a violência e a mais profunda devastação. Martin consegue descrever, com dureza e realismo, a crueldade das guerras pelo poder e o modo como os mais frágeis são dura e impiedosamente atingidos.

A magia ganha mais espaço na história: temos agora dragões, alquimistas, feiticeiros, um cometa misterioso e uma infinidade de encantos secretos. Deuses também se tornam mais importantes nessa trama: os deuses antigos, o deus da luz, o deus afogado, os Sete. As religiões aparecem ora como um alento para os que sofrem, ora como um semeador de discórdia e incompreensão: o mundo criado por Martin, afinal, não é tão diferente do nosso.

Os personagens, já bem trabalhados no primeiro livro, ganham mais beleza (ou horror) e profundidade. Sansa aparece mais forte e mais crescida, mais séria e mais triste – restam poucos traços da menina que se encantava com todas as maravilhas da vida de uma dama, embora ainda seja sutil e adoravelmente sonhadora. Arya, pequena guerreira, precisa ser ainda mais corajosa agora, porque os perigos são maiores e mais reais. Tyrion se mostra cada vez mais inteligente, ardiloso, brilhante, sarcástico, quase cruel e, por vezes, surpreendentemente encantador. Os capítulos mais poéticos – capazes de despertar as mais doces emoções – são, em minha opinião, aqueles dedicados ao Bran e à Catelyn: repletos de memórias, com pitadas de fé e magia, condensam a suavidade que muitas vezes falta a outras partes da história. Falta, sim, porque não poderia ser diferente: a vida está difícil – e cruel – para todos. A fome e a devastação nos reinos, o frio para além da muralha, a solidão, a morte, as traições.

O inverno chegou. Quem sobreviverá?

Por Carla Jaia


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